Foi em um desses eventos para executivos, sobre planejamento estratégico que
encontrei um antigo vizinho e que me fez lembrar do Sr. Luigi Bianco.
Gigio – era
assim que todos nós o chamávamos - era um sapateiro no bairro do Brás em um tempo
que já faz parte da história, quando, por lá, falava-se meio cantado,
influência da forte imigração italiana.
O velho
Gigio, não tão velho – não passava dos quarenta – embora, para nós, meninos de
doze e treze anos que jogávamos bola na rua, ele era um senhor - tinha a
simpatia e o respeito de toda a vizinhança: além de ser um bom sapateiro, era
solidário e prestativo com todos, na alegria e na tristeza, sempre pronto a
ajudar, além de suas falas filosóficas que narrava tão bem à sua platéia: seus
fregueses que ficavam por ali enquanto ele dava uma “manutenção” em seus pares
de sapato.
Ninguém
como ele colocava tão bem uma meia-sola, os sapatos saíam como novos de sua
oficina! Ele realmente gostava da sua profissão.
Foi uma de
suas falas que me fez lembrar do bom artesão: estava eu em sua sapataria com
ele a costurar uma bola de capotão – ia ter “jogo contra” e a “redonda” tinha
que estar em forma! – quando chega o filho da Dna. Maria do 21, com um par de
sapatos, o único que ele tinha, para arrumar. O menino, mais velho do que eu,
estava com um ar não sei se de preocupado ou assustado e o Gigio também notou,
tanto que foi logo perguntando:
- Hei,
paisà! Qual é o problema? Porquê esta cara de choro? – responde o menino: É
“seu” Gigio, fui fazer um teste lá na Matarazzo do Belenzinho e fui reprovado,
vou ter que continuar trabalhando na venda do senhor Adiz. Emprego como aquele
não se encontra todo dia...
- “Bella
Roba” – respondeu-lhe o sapateiro – Se perdeu a oportunidade de arrumar um novo
emprego hoje, amanhã arruma outro igual ou melhor! – e continuou ele – Emprego
é como sapato: você tem que escolher bem, não é só o modelo que importa,
precisa calçar de acordo com o seu pé, se a firma tem uma imagem pra fora
bonita, mas com um ambiente de trabalho schifoso é como sapato da moda que
aperta os dedos do pé: todo mundo admira, mas você sofre um bocado para andar e
não vê a hora de chegar em casa para se livrar dele. Agora, se o sapato for
largo, também não é bom, é como um emprego honesto como você tem hoje e que não
dá muita importância e não se dedica o necessário – cuidado! Um dia o sapato
sai do seu pé e você perde algo que só vai perceber a falta quando não tiver
mais.
- Por isso,
caro amigo, encontrando um emprego, não importa se é em uma grande companhia ou
se vai lhe pagar um rio de dinheiro, o que importa é se o que você faz lhe
agrada e o ambiente seja bom, que haja vida! Neste caso, use sapatos com
cadarços e amarre bem eles, e sinta o seu caminhar firme e pra frente. Este
vale a pena segurar!
Claro que a
gente fica triste, pois emprego é uma segurança, segurança da sua cabeça que
você hoje não vai entender, mas, mais tarde, vai saber que a coisa mais
importante desta vida é a sua própria vida, é fazer o que se gosta, a
felicidade é só sua, de ninguém mais. Por isso, tira esse ar de tristeza da
cara e avanti... a vida tem muito para lhe oferecer e o trabalho é uma dessas
coisas, mas, lembra, não é tudo! O par de sapatos é importante para proteger os
pés, mas você nasceu sem eles.
Muito tempo
já se passou! O jovem preocupado em nossa história, que, por coincidência,
encontrei naquele evento sobre planejamento estratégico, ocupa hoje uma posição
de diretor financeiro em uma grande empresa e continua com aquele olhar triste.
Quase lhe perguntei sobre os seus sapatos...
Hoje não
existe mais bola de capotão, muito menos sapatos que recebem meia-sola, tanto a
bola como os sapatos são produtos descartáveis.
E os
empregos? Estes se diversificaram um bocado! Poucos ganham muito e muitos
procuram uma oportunidade em um mercado cada vez mais técnico e competitivo.
Tem-se que andar muito, gastar muita sola de sapato para encontrar, nem sempre,
um emprego que se ajuste à nossa satisfação. Mas, é bom lembrar: o novo par de
sapatos não precisa estar na moda e nem custar um dinheirão. Como diria o velho
Gigio com seu sotaque romano: O importante é ser honesto e ter um emprego
decente – Bons tempos aqueles...
E você,
anda com os seus sapatos firmes? Não esqueça de lhe dar uma manutenção, uma
engraxada de vez em quanto, para preservar o couro e ele lhe responder de forma
macia ao seu pisar. Agora, se eles estão lhe apertando os pés, dê um jeito de
trocá-los e se não for possível, procure amolecer o couro, consulte um velho
sapateiro para ajudá-lo ou, caso contrário, você continuará a sofrer, mas
mantendo as aparências!
Fonte: http://www.selecta-es.com.br/
Nenhum comentário:
Postar um comentário