quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Como se chegou à pior recessão desde os anos 90?

Cinco fatores que agravaram a recessão nos últimos meses.

1 – Lava Jato e preços do petróleo

Segundo cálculos da Tendências, a operação Lava Jato deve ter um impacto de -2,5% no PIB deste ano em função das paralisações nas atividades da Petrobras e de algumas das maiores construtoras do país.
Isso significa que, não fossem os efeitos das investigações nas empresas, a queda do PIB poderia ser de 0,7% na estimativa da consultoria – que hoje projeta uma retração de 3,2% para a economia em 2015.
Empresas como a Odebrecht e a Camargo Correa, além da própria estatal petrolífera, revisaram seus investimentos e os contratos com parceiros e fornecedores, além de ter feito demissões.
"O setor de óleo e gás e a construção civil têm uma participação importante no total dos investimentos da economia – então era esperado que o efeito fosse significativo", explica Ribeiro.


Image copyrightEPA

André Perfeito, da Gradual Investimentos, ressalta que a Petrobras também foi afetada pela queda dos preços do petróleo.
Em agosto de 2014, o barril (tipo brent) estava na casa dos US$ 100. Hoje, não passa dos US$ 50.
"Isso altera as perspectivas para os projetos do pré-sal e obriga a empresa a revisar alguns de seus planos", diz Perfeito.

2 – Crise política

Outro fator que teria prejudicado bastante o desempenho da economia na avaliação dos economistas foi a crise política.
"No início do ano a agenda do ajuste fiscal acabou capturada pelo presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB)", diz Perfeito.



"Surgiram problemas como a 'pauta bomba' (medidas propostas pelo Congresso que aumentavam os gastos públicos) e o resultado foi que o processo de ajuste não caminhou tão rápido como se imaginava."
Otto Nogami, professor do Insper, acrescenta que a crise política também contribuiu para agravar o clima de incertezas, que inibe investimentos.
Ninguém no início do ano poderia imaginar que alguns grupos defenderiam um impeachment da presidente e que chegaria a haver dúvidas sobre capacidade de Dilma Rousseff terminar o mandato.
"E o resultado disso tudo foi uma deterioração rápida das expectativas de investidores para a qual também contribuiu a perda do grau de investimento (pela agência de classificação de risco Stardard & Poor’s)", opina Nogami.

3 – Aperto monetário e ajuste

Muitos analistas admitem que o aperto monetário e o ajuste fiscal mais duro do que era esperado também tiveram seu papel no aprofundamento da recessão.
Os cortes de gastos anunciados em um primeiro momento não se mostraram suficientes para o governo atingir a meta de superavit primário (economia feita para pagamento dos juros da dívida), o que levou a uma revisão sucessiva da meta para 2015 e novos enxugamentos.
Para alguns economistas, o ajuste não foi rápido e contundente como deveria ser. Já outros, de linha mais heterodoxa, o problema foi que o ajuste e o aperto monetário foram duros demais.


LEvy e BarbosaImage copyrightAg. Brasil
Image captionMinistros da Fazenda, Joaquim Levy, e do Planejamento, Nelson Barbosa, anunciam cortes

A questão é que a recessão levou a uma queda da arrecadação – e com isso o deficit fiscal em vez de cair, cresceu. No último relatório de receitas e despesas deste ano, por exemplo, o governo confirmou a intenção baixar a meta fiscal de 2015 para um déficit primário de R$ 51,8 bilhões, ou 0,8% do PIB.
"O ajuste não foi eficiente nem sequer para produzir seu objetivo direto, que era o superávit, quem dirá em gerar crescimento", diz Biancarelli, um dos críticos ao processo de ajuste.
Como a inflação ficou acima do esperado (analistas preveem que feche o ano na casa dos 10%), o Banco Central também aumentou os juros mais do que era previsto em uma tentativa de conter os preços.
Para Nogami, do Insper, não há como negar que tanto a política fiscal quanto a monetária foram e têm sido contracionistas, mas elas são um "mal necessário".
Ribeiro, da Tendências concorda: "Já vimos tentativas de recuperar a economia ampliando os gastos do Estado e elas sempre fracassaram."
Já Biancarelli acredita que há alternativas: "Uma taxa de juros mais razoável e uma recuperação dos investimentos públicos hoje poderia dar algum alívio a economia", diz ele.

4 – Queda no consumo

Para Nogami, a recessão brusca ocorreu em parte em função do estouro do que ele chama de "bolha do consumo".
Até o fim do ano passado, mesmo com a economia desacelerando, o mercado de trabalho ia relativamente bem. A renda real média dos trabalhadores crescia e o desemprego registrava recordes sucessivos de baixa – o que dava confiança para as famílias continuarem comprando.


Image copyrightReuters

Além disso, Nogami diz que, até 2014, foram adotadas uma série de medidas para estimular o consumo – como a expansão do crédito.
Neste ano, com o aumento do desemprego e enxugamento do crédito, o Brasil estaria vivendo a ressaca desse processo.
"Sem aquela demanda que vinha sendo inflada artificialmente, a indústria e outros setores estão sentindo a necessidade de reajustar sua estrutura, o que muitas vezes representa um aumento das demissões", diz Nogami.
"Além disso, o enxugamento dos gastos públicos também teve um efeito significativo na demanda, já que o governo é o segundo maior 'consumidor' da economia, depois das famílias, respondendo por 22% dos gastos totais."

5 – Cenário externo

Para Biancarelli, o cenário externo também contribuiu para que o desempenho da economia brasileira fosse pior do que o esperado em 2015.
Ele menciona que o FMI revisou sucessivamente suas expectativas de crescimento para a economia global em 2015. Neste mês, por exemplo, a estimativa passou dos 3,3%, em julho, para 3,1%.
Entre os fatores externos mais relevantes para a economia brasileira estariam a queda nos preços nas commodities e a desaceleração chinesa.
Como resultado desses dois fenômenos, o valor negociado das exportações brasileiras caiu e, mesmo com o real desvalorizado, as exportações para a China tiveram baixa de quase 20% no primeiro semestre na comparação com 2014.
"Acho que está claro que, mesmo com o real em um patamar mais baixo, não vão ser as exportações que vão puxar a economia nos próximos meses, como em 2004", diz o economista da Unicamp.

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