Dez entre dez especialistas garantem: "o profissional do futuro deve, sobretudo, saber trabalhar em equipe". Ter bom relacionamento com os colegas, saber ouvir, opinar e discutir idéias, são características de quem possui esse talento. Quem está no mercado de trabalho já há algum tempo sabe que, ainda que surjam conflitos, duas cabeças pensam melhor do que uma. Mas quem nunca pensou que preferia trabalhar sozinho porque centralizando o trabalho em si "a coisa andaria melhor"?
Há uma explicação para esse receio em relação ao trabalho em equipe. Desde os tempos da escola, quando o professor mandava a turma se dividir em grupos para executar uma tarefa, os alunos aprendiam como é difícil lidar com idéias distintas e, muitas vezes, com a falta de comprometimento dos colegas. Da escola para frente, uma sucessão de experiências ruins relacionadas ao tema trabalho em equipe é que podem causar restrições ao coletivo. Mesmo os seminários durante a faculdade e até o trabalho de conclusão de curso da graduação. O individualismo, por sua vez, está com os dias contados no atual mercado de trabalho. Tanto é que consultores de carreira são taxativos: se você quiser sobreviver no meio corporativo terá de aprender a lidar e trabalhar com os outros.
A primeira coisa que você precisa saber para se dar bem numa empresa que prioriza o coletivo é fazer uma distinção clara do que é trabalho em grupo e trabalho em equipe.
"Equipe quer dizer comprometimento. Trata-se de um grupo de pessoas com um objetivo comum que batalham por sua conquista e respeitam as características e competências individuais de cada um. Um não se sobrepõe ao outro. Trabalham em conjunto, aproveitam o que cada um tem a oferecer, ao contrário do que acontece em um grupo sem foco, sem objetivo", explica a psicóloga e consultora Suzy Fleury.
A especialista é do time que acredita que cada indivíduo tem algo a oferecer para transformar um grupo numa equipe de sucesso. O segredo, segundo ela, é aproveitar tais competências individuais para obter um bom resultado coletivo.
Fã assumida da metodologia utilizada pelo técnico da seleção brasileira de vôlei masculino, Bernardinho, a psicóloga defende que uma equipe, assim como um grande time, não se faz só de estrelas, mas de indivíduos de diferentes qualidades que, em conjunto, obtêm sucesso. Não é à toa que, há anos, o treinador conquista títulos no esporte por saber estimular esse potencial em cada jogar em prol de um objetivo comum. "Em seu livro, 'Transformando suor em Ouro', Bernardinho destaca que essa é a receita para levar um grupo ao topo do podium. No vôlei, com exceção do saque, todas as ações são coletivas. Por essa razão, é preciso estimular o grupo a aproveitar as competências de cada um dos integrantes", lembra Suzy.
Para a psicóloga, os grandes realizadores dotados de sabedoria sabem que a força do time vem do indivíduo. Por que, então, nas empresas, os projetos que demandam troca de idéias de uma equipe tendem a ser um fracasso? Segundo Suzy, o principal erro do universo corporativo é anular a força do indivíduo quando ele faz parte de um projeto. "Os colaboradores são águias de um projeto. Eles precisam ser tratados como peças determinantes, verdadeiros atores, e não meros coadjuvantes num processo maior que exige envolvimento, cooperação e determinação para atingir resultados", explica. Segundo ela, para atingir metas, cabe ao gestor de uma equipe identificar o potencial de cada indivíduo e estimulá-lo.
Além da ação do gestor, também cabe aos membros da equipe identificar se alguns pontos determinantes para o sucesso do trabalho coletivo estão presentes no dia-a-dia. Para facilitar este trabalho ela criou um check-list básico com aquilo que ela considera necessário para garantir a sustentabilidade e excelência num projeto tocado a mais de quatro mãos.
O que você pode fazer pela equipe
"O dia-a-dia do grupo que quer se tornar uma equipe deve ser orientado por quatro princípios básicos: união, disciplina, trabalho e profissionalismo. Sem isso, não há como obter sucesso", afirma Suzy. Como, porém, vencer os pequenos obstáculos que se sobrepõem ao trabalho? O medo de ser passado para trás pelo colega, a disputa por dar a palavra final, a falha crônica de comunicação que gera intrigas e discussões...
O especialista comportamental, Jô Furlan, diz que não há receita milagrosa a não ser baixar a guarda e superar o medo e a desconfiança para dar chance do trabalho dar certo. É claro que estabelecer uma relação de confiança num ambiente competitivo em que pessoas disputam espaço, visibilidade e, sobretudo, reconhecimento, impede muitos profissionais de olharem o outro como parceiro. Para ele, é inevitável que dois ou três candidatos se sobressaiam num time, mas isso não deve ser encarado como negativo pelos demais porque, quando o trabalho é bem feito, todos são diretamente beneficiados e dentro deste processo, cada um tem o seu valor. "Duas pessoas não ocupam o mesmo lugar no espaço. Se houver alguém na empresa que faz o mesmo trabalho tão bem quanto você, um dos dois está sobrando. Por isso, é indispensável pensar em cooperação. A cada hora alguém tem sua contribuição individual reconhecida", diz ele.
Seguindo este raciocínio, é fundamental para o sucesso que os membros da equipe sejam flexíveis e aceitem a opinião dos outros. "Parece bobagem, mas 90% dos profissionais não recebem uma crítica de maneira construtiva. Encaram uma negativa em relação a uma idéia ou a um projeto como um boicote pessoal", critica Furlan. Ele lembra que naturalmente as pessoas tendem a se aproximar daquelas com as quais têm afinidades, no universo corporativo, no entanto, é preciso diversidade, especialmente quando se trata de um projeto que implica em riscos para a empresa. "As pessoas precisam parar de achar que bom é aquele que concorda comigo. Quem tem uma opinião contrária e consistente deve ser ouvido com atenção, não encarado como inimigo. Muitas vezes, uma crítica construtiva poderia ter salvado um projeto que não deu certo", afirma ele.
Quem tem um perfil contestador, porém, precisa saber até onde pode ir com sua crítica, avaliação negativa ou seu questionamento sobre a validade de uma idéia. "Tem muita gente aí que se diz sincero porque fala o que pensa. Eu discordo totalmente disso, acho que sinceridade é uma coisa, falta de educação é outra. Falar o que pensa de maneira agressiva, doa a quem doer, só vai colocá-lo numa posição desconfortável perante os colegas e, mais, dar margem para que receba críticas tão ferozes quanto aquelas que fez", alerta Furlan.
O embate verbal pode ser responsável pela quebra de confiança e pela geração de conflitos, em alguns casos, até irremediáveis. O especialista em Recursos Humanos e Comunicação Verbal, Reinaldo Passadori, lembra como somos resistentes a aceitar idéias diferentes das que foram sugeridas por nós mesmos e, com isso, como tentamos, a todo o momento, mostrar que somos capazes de ter uma sacada genial impondo um discurso ao colega. Quando essa idéia não sai do papel, levamos adiante um sentimento de revanchismo, algo como: "Puxa, na próxima reunião eu vou ter a idéia do século". O que muita gente esquece é que cada indivíduo tem essa percepção e, caso as idéias tenham sido discutidas neste clima, não haverá comunicação eficiente que resolva. "Não adianta ser afoito, falar demais ou passar por cima do outro. É preciso criar uma condição de interatividade para que todos possam expor suas idéias", acredita.
E haja paciência para aceitar os mais eufóricos quando tudo que se precisa numa reunião é sossego para assentar as idéias. Nessa hora, uma dose de bom-senso ajuda muito a moderar a situação para que todos possam ouvir atentamente o que cada indivíduo tem a dizer. Aí, entra outra característica indispensável para o trabalho em equipe dar certo: maturidade para administrar conflitos. Para Passadori, alguém precisa assumir o papel de apaziguador da turma e colocar ordem no trabalho quando se está andando em círculos.
Uma vez organizadas as idéias, é hora de definir os papéis. Cada indivíduo precisa ter sua responsabilidade dentro do grupo. A verdade é que no dia-a-dia poucos carregam o piano, mas se todo mundo fizesse sua parte o piano seria leve e ninguém ficaria sobrecarregado. Na opinião de Passadori, há duas situações que devem ser observadas neste quesito: o colega centralizador e o bon vivant. Tanto um como o outro prejudicam o trabalho em equipe, pois sobrecarregam um dos lados da balança. "Tem gente que não foi forjada para o trabalho duro, gosta de moleza, mas têm pessoas que simplesmente não delegam porque não confiam nos outros ou têm medo de perder espaço", acredita.
Na opinião do especialista, outro aspecto fundamental para o sucesso do trabalho em equipe é manter o bom-humor. Para ele, gente que trabalha de cara feia, carrancuda e sisuda só perde a oportunidade de levar a vida de uma maneira mais leve e saudável. "Tem gente que entra no escritório e se transforma em um ser humano mal-humorado. Como se o trabalho em si não fosse prazeroso. As pessoas precisam aprender que o prazer está na caminhada e não na chegada e que um sorriso desarma qualquer um permitindo que você tenha amigos e não só colegas de trabalho", conclui Passadori.
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